domingo, 21 de setembro de 2008

Dos indesejáveis errantes

Andam pelas ruas do mundo de olhos puxados, jeans, com e sem véus, os coloridos e os brancos. Não são os donos da cidade. Na maioria das vezes, tampouco foram convidados. Todos têm uma forte razão. Ou um sonho. Quase nunca interessa a origem, pouco importa o destino. Cedo ou tarde, em maior ou menor grau, com o mínimo de sensibilidade, eles provam o gosto do preconceito, o de dentro e o de fora.

DOS INDESEJÁVEIS ERRANTES

A mais nova polêmica envolvendo estrangeiros na Europa, chamada de "Diretriz do Retorno", aprovada pelo Parlamento Europeu em junho último, promove o "regresso voluntário" de imigrantes ilegais e tolerados com medidas nada humanistas, porém práticas, técnicas e racistas.
Aqueles são eles cerca de 8 milhões de imigrantes em situação irregular, que, ao serem caçados, se negarem a deixar o país num prazo entre sete e trinta dias, serão aprisionados por até 6 meses. Em casos específicos, a pena pode ser prorrogada por mais 12 meses. Mesmo os menores de idade, sem a presença de um responsável, serão encarcerados. Mas com direito a jogos lúdicos e à educação.
A estratégia para varrer da Europa boa parte dos cidadãos que formam a aldeia global provocou frases de efeito e atitudes dignas de manchetes dos líderes da América do Sul. Todos aproveitaram a pauta para fazer suas propagandas. Será que Chávez vai mesmo embargar a exportação de petróleo, como bradou ?
É verdade que a nova lei não condiz com a imagem européia de protetora-mor dos direitos humanos. E deve ser discutida.
O que não se lê nos jornais é que o texto, com regras mínimas comuns aos 27 Estados-Membros, dá liberdade de aplicar normas mais favoráveis a quem quer que seja.
Tudo depende se os homens que tomam as decisões pretendem continuar a fazer "business as usual" ou se eles vão começar a ouvir a voz enfraquecida da democracia, como aconselha o filósofo Jurgen Habermas.
Se ao invés de continuar a importar conhecimento de países pobres e em desenvolvimento - em forma de pessoas altamente qualificadas - os europeus oferecessem educação de alto nível aos que já estão aqui há anos, eles encontrariam enfim o seu lugar no mundo. Melhor do que mandá-los de volta para onde eles nem mais pertencem, ou não querem pertencer.
Melhor do que olhá-los com desprezo, dificultar-lhes a vida na hora de alugar um apartamento ou os excluírem do mercado de trabalho por conta de sotaques, de credos e da cor da pele.
Os estrangeiros, por sua vez, não fazem um jogo mais bonito e inteligente. Mal pisam no velho continente e já começam a reclamar: o europeu é fechado, não sorri, a comida é muito apimentada, não tem sal, as mulheres não depilam as axilas, elas têm barriga, o idioma é difícil, faz muito frio.
Simplesmente ignoram o fato de que estão de cara com uma nova cultura, a qual não vê graça em sorrir toda hora e que, em geral, prefere muito mais sentar ao redor de uma mesa com amigos, beber e conversar a noite toda do que caçar presas sexuais numa boate.
Dominados por preconceitos, os imigrantes vão tornando-se cada vez mais marginais. Para citar exemplos bem próximos, muitos brasileiros só frequentam a comunidade verde e amarela. Bebem em bares brasileiros, comem em restaurantes brasileiros, vão a shows brasileiros, só tem amigos brasileiros. Há quem viva em Berlim mais de cinco anos e nunca fez um amigo alemão. Vivem em guetos. Nas horas vagas, ficam no Orkut, em comunidades afins, e falam mal do país que muitas vezes os sustenta, graças à ajuda social do governo.
Na Inglaterra vivem cerca de 160 mil brasileiros. Estima-se que mais da metade está ilegal. A maior parte sobrevive de faxina. Em geral, os mais bem empregados são garçons e garçonetes, mesmo os graduados do Brasil. E trabalham tanto que quando têm um dia de folga só querem descansar. No máximo, lavam roupa para poder trabalhar no dia seguinte.
Muitos pensam: "Comigo isso não aconteceria". Mas eles lavam banheiros por que querem ? Sim e não. Em geral, as oportunidades de trabalho oferecidas aos imigrantes são faxina e cozinha. Às moças com requebrado e de corpo bem feito há mais uma opção: o show de samba. Para não ir além.
A auto-marginalização vem sempre acompanhada de uma causa. Imigrantes legais, provenientes de países não pertencentes à União Européia, foram indesejáveis por décadas. Muito embora suas contribuições econômicas sejam indispensáveis, os acessos a benefícios sociais sempre foram limitados. Entre milhares de imigrantes, são raros os que conseguem aparecer como representantes desse grupo, seja na política ou nos meios de comunicação de massa. Ou apenas como membros de uma sociedade; o que deveria ser um princípio. Programas de integração já são realidade. Há no entanto uma fórmula de sucesso para políticos populistas: escurraçar "estrangeiros"; ainda que eles pertençam à terceira geração nascida na Europa. Foi assim que Berlusconi fez para reeleger-se na Itália. Foi assim também que Roland Koch, de um partido conservador alemão, reelegeu-se governador de Hessen, no último inverno. O seu slogan principal foi "Kinder statt Inder" (Crianças ao invés de indianos). Uma mensagem para os alemães fazerem mais filhos ao invés de acolher outros povos.

Meyre Anne Brito é jornalista

Nessa parte da revista tem uma foto que ela tirou de um cartaz distribuído na espanha que tem uma criança negra sorrindo segurando um quadro que está escrito isso ó:

Tu Cristo es judio
Tu escritura es latina
Tus números son árabes
Tu democracia es griega
Tu equipo de música es japonés
Tu balón es de Corea
Tu videoconsola es de Hong Kong
Tu camisa es de Tailandia
Tu estrellas furbolísticas som de Brasil
Tu reloj es siuzo
Tu pizza es ilaliana

Y...tú eres el que mira a ese trabajador inmigrante como um despreciable extranjero?


Caros Amigos, 138 setembro 2008

Nota do blog: Eu não tenho vontade de ir pra outro país, prefiro os nossos sorrisos, mas pra quem quer ir que o texto ajude em algo, ou não.

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