quarta-feira, 17 de setembro de 2008
Tião Rocha
Você já pegou criança de família problemática, com uso de drogas ?
Muito. O que a gente aprendeu é: não discriminar. Discutir o fundamental, o quê é droga, quem consome. Nós aqui somos grandes consumidores. Eu acho o Big Brother droga, e pesada. Pior que cocaína. E a gente fica consumindo e ninguém discute isso. Acho determinadas músicas droga pesada. A dança da garrafinha. Se as pessoas produzem e consomem, o quê tenho que fazer ? Primeiro: não é ficar classificando qual pode e qual não pode, isso não leva a nada. Tudo o que é seletivo não é educativo. A escola que seleciona não educa. Ela não tem que fazer seleção, tem que fazer inclusão de tudo, transformar tudo em instrumento de felicidade. O quê posso fazer que seria tão bom ou melhor que cachaça, coca, crack ? Ninguém usa droga porque quer, seria um reducionismo da raça humana. Preciso criar mais alternativas. Enche o cara! Esse menino estava na zona de tiro. Aí criamos, para ele, o "anjo da guarda" (educadores). Tem jovem que tem quatro. Por que "anjo da guarda"? Porque fica na cola do jovem inventando moda, "vamos fazer isso?". Alternativas. "Passamos a noite andando de skate. Tô morto!" Depois de três dias de skate...
Qualquer professor de pedagogia vai falar de uma resistência de seus futuros pedagogos quanto a qualquer método inovador; que tudo bem, muito bonito, mas a escola é violenta, os alunos batem, "estou esperando aposentar", o que você diz ?
Esse cara, espero que aposente depressa. Sempre coloco: as pessoas têm que pensar o tamanho do calibre entre o discurso e a prática. Só vão mudar se alguém começar, não vai mudar lá de cima. Outra: se você ficar 4 horas e meia dentro da escola, pode fazer diferente. E os que conseguem, percebem que são contaminadores, porque há um desejo de alternativas. Perguntam ao menino: por que você estuda ? Para ser alguém na vida. Alguém botou na cabeça dele que não é nada na vida, só no dia que fizer universidade. E continua sendo ninguém. Vai fazer o MBA, pós...vai continuar não sendo nada, porque estão sempre terceirizando seu futuro.
Revista CAROS AMIGOS. nº 137 agosto de 2008
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