Deliciosa casa, não acha? As duas cabeças que vê lá são de escravos negros. Uma tabuleta. A casa pertencia a um traficante de escravos. Ah! Não se escondia o jogo, naqueles tempos. Tinha-se audácia, dizia-se: "Aí está, faço tráfico de escravos, vendo carne negra,." Já imaginou alguém, hoje em dia, trazendo ao conhecimento público que é este o seu trabalho? Que escândalo! Parece que estou ouvindo meus confrades parisienses. É que são irredutíveis nessa questão, não hesitariam em lançar dois ou três manifestos, talvez até mais! Pensando bem, eu juntaria minha assinatura às deles. A escravatura, ah, isso não, nós somos contra! Que se seja obrigado a instalá-la em sua casa ou nas fábricas, bom, é a ordem natural das coisas, mas vangloriar-se disso é o cúmulo.
A Queda, Albert Camus pág. 36-37
terça-feira, 11 de maio de 2010
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1 comentários:
E o Eduardo leu isso para mim no trem que ia para São Paulo, e outro trecho, previamente grifado no livro. E eu li os contos. E foi um momento bacana, daqueles de camaradagem e nonsense. Um privilégio, um amigo assim.
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